O político Carlos Lacerda (1914-1977) foi também escritor, tradutor, apresentador, locutor e ator. Lacerda escreveu e traduziu alguns livros.
Dentre os já traduzidos, destacam-se Júlio César, de William Shakespeare, e O Triunfo, de John Kenneth Galbraith.
Uma tradução de Júlio César foi publicada em 1965, pela Record. Após o golpe militar de 1964. Mais obras começaram a ser pensadas em 1955, meses após o suicídio de Getúlio Vargas.
O suicídio de Getúlio Vargas deixou claro que a população brasileira saiu às ruas para chorar e protestar contra a morte do presidente trabalhista. E entre os protestos havia palavras de ordem
contra a Aeronáutica e contra Carlos Lacerda.
Lacerda comentou isso quando lançou a tradução de Júlio César, em 1966.
Getúlio Vargas foi inúmeras vezes comparado a Júlio César por Carlos Lacerda.
Trazido por alguns membros da UDN e por setores militares, que não cumpriram a promessa de que as eleições diretas para presidente seriam restabelecidas em 1965, após a deposição de João Goulart, em 1964, Lacerda decidiu publicar Júlio César em 1965, na no auge de seu mandato como governador do antigo Estado da Guanabara.
Além do livro, Lacerda deixou, ainda, discos de vinil, com gravações de sua interpretação sobre o texto que traduziu a fala de Marco Antonio Brutus.
Esses discos foram doados por Lacerda para seu fiel assessor gráfico, Walter Cunto, jornalista que arrebatou o patrimônio político em tempos de governo, no Palácio Guanabara.
Como presidente da Sociedade de Amigos de Carlos Lacerda, recebeu a herança viva de Walter Cunto, após a qual faleceu o jornalista. E, em pouco tempo, entreguei o material, por empréstimo, ao Arquivo Geral da Cidade.
Brilhante orador, não recita um discurso sobre Júlio César Lacerda ou discurso de Marco Antonio Brutus, de autoria do grande William Shakespeare.
Além de ter traduzido Júlio César e O Triunfo, Carlos Lacerda escreveu inúmeros livros.
Entre eles, “O caminho da Liberdade” (1957), “O poder das ideias” (1963), “Brasil entre a verdade e a mentira” (1965), “Paixão e Ciúme” (1966), “Crítica e Autocrítica” ( 1966) e “A Casa de Meu avô” (1977).
Após a morte de Carlos Lacerda, em 1977, foram publicados “Depoimento” e “Discursos Parlamentares”.
“Depoimento” e “A Casa de Meu Avô” foram, certamente, os melhores livros que Carlos Lacerda escreveu.
Filho de Olga Werneck e Maurício de Lacerda, em “A Casa de Meu Avô”, Carlos Lacerda lembra a chácara onde passou a infância, em Vassouras. E isso é do Sebastião Eurico Lacerda.
Net de Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda (1864-1925), ou ex-governador, tinha 9 anos quando morreu.
Descendente de nobres açorianos, o Lacerda do Faial, Sebastião Lacerda formou a Faculdade de Direito de São Paulo, em 1884, foi eleito deputado federal em 1894, nomeado Ministro dos Transportes em 1897, no governo de Prudente de Morais, Ministro do Supremo Tribunal Federal, em 1912, e, sempre que podia, passava uma temporada na chácara que herdou de sua família, em Vassouras (cidade do Comércio).
Além do pai de Maurício Lacerda (de quem era filho Carlos Lacerda), jornalista, escritor e militante do Partido Comunista, tenho também mais dois filhos, Paulo de Lacerda e Fernando de Lacerda, que são dirigentes do Partido Comunista.
Antes de morrer, Carlos Lacerda disse que também sentia o melhor de seu pai, Maurício Lacerda.
Formado pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, em 1906, ou pai de Carlos Lacerda trabalhou como ex-presidente Hermes da Fonseca, entre 1910 e 1912, foi deputado federal entre 1915 e 1918. E, ainda, prefeito de Vassouras, entre 1915 e 1920.
Ao sair do Partido Comunista, Maurício Lacerda foi um dos dois fundadores da extinta UDN (ao lado de seu filho, Carlos Lacerda).
O ex-comunista Maurício Lacerda assumiu a presidência da seção carioca da UDN, em 1946.
O pai de Carlos Lacerda morreu em 1956.
Lacerda também deixou livros de contos, com histórias escritas nas décadas de 30, 40 e 70.
Escreveu também “O Quilombo de Manuel Congo” (seu primeiro livro publicado), dedicado ao rio Paraíba, onde misturou a narrativa do desejo de liberdade de dois escravos fugidos em 1839.
Apreciador de teatro, Carlos também sonhava em escrever uma peça sobre Antonio José, o Judeu.
A editora da UnB lançou, após a morte, três peças teatrais escritas por políticos e jornalistas. Ou rir. Uma bailarina solta o mundo (visitou o Território do Amapá na década de 1940, quando Getúlio Vargas era presidente).
Estas peças serão representadas por grupos do Teatro Amador.
“A Casa de Meu Avô”, porém, foi considerado pela crítica como o melhor livro de Carlos Lacerda.
A obra viria a receber, na época em que foi lançada, elogios do grande escritor Carlos Drummond de Andrade.
Mauro Magalhães. Ex-deputado e empresário.